Vale do Cuiabá – na Fazenda São Joaquim, todos reverenciavam a matriarca Francisca Soares Sampaio – parte 2

Prosseguindo aqui, como prometi, os relatos sobre as fazendas e os sítios do hoje arrasado pelas enchentes Vale do Cuiabá, e que, de certa forma, contaram e contam a História da Tradicional Sociedade Brasileira. Hoje vamos falar dos elegantes irmãos Soares Sampaio, que agregaram sotisficação, luxo e elegância àquela região…

Na década de 40, chegaram ao Vale do Cuiabá três jovens irmãos distintos de caráter, personalidade e gostos. Alberto, Bento e Álvaro Soares Sampaio, de família tradicional, todos casados com mulheres de personalidades fortes, que impulsionaram a povoação do Vale do Cuiabá, com sofisticação e bom gosto…

A casa de Álvaro Soares Sampaio era no mais puro estilo cottage inglês e, como um bom bebedor de whisky, Álvaro possuía seu próprio sifão da mais pura água cristalina do Vale para misturarao seu whisky. O irmão Bento possuía a Fazenda Santa Cecília e a vendeu, em 1963, ao senador João Gouvêa Vieira. Na época, Bento já morava em Petrópolis, na Avenida Koeller, e a cidade e o Vale borbulhavam com os ilustres moradores e veranistas…

O irmão Alberto Soares Sampaio e sua mulher, Francisca, famosa pela fibra e a personalidade marcante, compraram uma propriedade no Vale, colocando nela o nome de Fazenda São Joaquim. Na época, importar arquitetos estrangeiros para projetar uma propriedade era um plus da elite brasileira, e o casal chamou o arquiteto grego Paul Rodocanachi, que ergueu, no Vale do Cuiabá, uma casa que era um verdadeiro colosso…

Com a compra da Fazenda São Joaquim, o casal e sua filha única, Maria Cecília, passavam lá os finais de semana e também nas férias de inverno e verão. Maria Cecília casou-se com Paulo Geyer e a fazenda passou a receber também os netos de Alberto e Francisca que cresceram freqüentando a São Joaquim…

Na fazenda, o patriarca Alberto realizava um dos seus maiores prazeres: a botânica. Reflorestou uma grande parte da área, replantando plantas nativas e introduzindo novas árvores. Criou um imenso roseiral e retornou com a agricultura do café. Na entrada da fazenda, uma beleza, plantou um caminho repleto de flores de maio!…

A pecuária também era outro interesse de Alberto que trouxe para fazenda o gado Jersey, a manteiga e o queijo tipo Minas, tudo produzido lá. A manteiga era tão saborosa que Alberto mandou fazer manteigueiras individualizadas para todos os lugares à mesa – mantegueiras de cristal, para almoço e jantar, e de madeira para os lanches, todas com monograma A.S.S….

Alberto também adorava a cozinha da fazenda que era grande como a de um hotel de luxo. Havia os fogões à lenha e também todos outros equipamentos modernos. Ele mesmo gostava de preparar as entradas das refeições e, à mesa, todos só se sentavam após Francisca tomar o seu lugar. À noite, os homens usavam gravata e as mulheres, sempre, vestido…

Era um verdadeiro ritual. Todos atrás de suas cadeiras, família e convidados, às 20h em ponto, e a matriarca era a última a entrar na sala e a primeira a se sentar. Garçons de libré, as melhores louças e pratarias e um centro de mesa sempre espetacular com flores da fazenda. Os melhores vinhos e o cardápio às vezes incluía faisões da fazenda…

A casa tinha uma entrada espetacular, com escadarias no hall de entrada e pé direito além dos dez metros. A imagem em tamanho natural de São Joaquim ficava logo à entrada e um lustre de ferro e bronze pendia do teto do hall, no alto da escada. Móveis franceses, principalmente aqueles enormes do tipo das antigas farmácias , salão de jogos e inúmeros brinquedos antigos que a própria Francisca colecionava…

Na casa havia ainda uma marcenaria e, sempre, um eletricista de plantão. Aliás, o marceneiro chefe, o competente Rui Leal, tornou-se figura conhecida no Vale do Cuiabá, sempre às voltas com os serviços da exigente dona Francisca…

Na fazenda também havia um lago com cisnes, patos, gansos. A piscina era das maiores da região; Uma sala de cinema com projetor de 16 milímetros sempre estava com lotação esgotada. Os filmes para maiores de 18 anos eram terminantemente proibidos aos menores que se espreitavam pelas portas para assistir às cenas mais picantes…

O casal Alberto e Francisca Soares Sampaio pontificava como Os Grandes Anfitriões do Vale do Cuiabá! Eram festas e jantares. Mas, a festa que marcou época no Vale do Cuiabá e na Fazenda São Joaquim foi o casamento da neta do casal, Vera Geyer, com Marco Antonio Bernardes, em 1970. E eu vou contar aqui…

A avó Francisca pediu a todos da família que não fossem à fazenda antes da festa, que ela mesma estava preparando, sigilosamente, com ajuda do seu fiel marceneiro e uma equipe de profissionais. Dona Francisca pretendia uma festa inesquecível. O casamento religioso foi na capela da fazenda. Francisca tinha devoção por Nossa Senhora da Conceição e o Bispo de Petrópolis celebrou a cerimônia. Coral, padres, coroinhas, mais de mil convidados!!…

Na piscina, foi construída uma gaiola dourada, que se abria soltando uma centena de pombos brancos. No almoço, mesas com toalhas brancas e vermelhas, cores de toda a decoração. O cabeleireiro Renault, o bgrande nome da época, fechou seu salão e subiu a Serra com toda a sua equipe para pentear Vera e a mãe, Maria Cecília, e as irmãs, Juanita, Maria e Cecília, além das madrinhas e damas…

Os noivos e os convidados atravessavam um caramanchão todo de flores brancas e vermelhas até chegar ao local da festa. Orquestra, muita dança e, à noite, uma explosão de fogos de artifícios iluminou o céu do Vale do Cuiabá, numa profusão de cores que até hoje ficou na memória de quem estava lá…

Dona Francisca Soares Sampaio era conhecida pelo seu temperamento forte e por sua generosidade. Todos os domingos, após a missa das dez da manhã, na capela da fazenda, e a que todos que estavam na casa tinham a obrigação de comparecer, ela reunia os empregados e pessoas do Vale para distribuir agasalhos e alimentos e brinquedos…

Outra época do ano em que a Fazenda São Joaquim era o centro das atenções era a Semana santa. As missas eram cantadas e os padres convidados chegavam a ter armários onde dispunham de roupas eclesiásticas trazidas de Roma, por dona Francisca, para eles realizarem suas missas…

O Sábado de Aleluia, com a malhação de um Judas gigantesco, era a alegria de todos os moradores da região. E, no domingo de Páscoa, os jardins ficavam repletos de coelhos e crianças atrás dos ovos de chocolate…

Nesse dias de alegria, Alberto Soares Sampaio, passeava a bordo de um Ford conversível que ganhou do genro, Paulo Geyer, e ia ver como andavam suas plantações. Após sua morte e de Francisca a fazenda ficou aos cuidados de Paulo e Maria Cecília Geyer, a única herdeira, que tinha uma vida mais urbana e não apreciava tanto a rotina de fazendeira. A fazenda foi arrolada como pagamento de dívidas bancárias da família, indo a leilão público, e até hoje permanece fechada…

Nas últimas chuvas, que arrasaram o Vale do Cuiabá, não se tem notícias de grandes estragos na Fazenda São Joaquim

cuiabá Fazenda 1 Vale do Cuiabá   na Fazenda São Joaquim, todos reverenciavam a matriarca Francisca Soares Sampaio   parte 2

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cuiabá Fazenda por dentro 1 Vale do Cuiabá   na Fazenda São Joaquim, todos reverenciavam a matriarca Francisca Soares Sampaio   parte 2

cuiabá Maria a cavalo 1 Vale do Cuiabá   na Fazenda São Joaquim, todos reverenciavam a matriarca Francisca Soares Sampaio   parte 2

A pequena Maria Geyer, na fazenda da família, no Vale do Cuiabá

2 ideias sobre “Vale do Cuiabá – na Fazenda São Joaquim, todos reverenciavam a matriarca Francisca Soares Sampaio – parte 2

  1. Nasci nessa fazenda maravilhosa em 1973,tenho fotos maravilhosas, meu pai era o engenheiro agronomo nessa fazenda!
    Ele era polonês Josef zimny, ele e dona Francisca batiam de frente sempre! Mas ela era uma pessoa maravilhosa,
    Amava aquela fazenda demais!

  2. Boa tarde.

    Existe alguma relação entre os a família Sampaio citados neste texto com a Refinaria e Exploração de Petróleo União, cuja ajudou a financiar a ditadura brasileira?

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