No Cais do Valongo, o encontro de dois negros históricos: Abdias Nascimento e André Rebouças!

Ouço falar, leio nos jornais, mas só mesmo a memória de meu saudoso amigo Abdias Nascimento para me fazer ir conhecer as escavações arqueológicas que acontecem no Cais do Valongo e me encantar com o trabalho de pesquisa da história urbana do Rio de Janeiro ali realizado. As diferentes pavimentações, visíveis em suas épocas diversas, viagem no tempo. Lá existiam, onde está marco histórico, as Docas Pedro II construídas pelo engenheiro André Rebouças, autor também do prédio em frente, um verdadeiro espetáculo, onde hoje se acha instalada a sede da Ação da Cidadania Contra a Fome, na Avenida Barão de Teffé, 75, bairro da Saúde

André Rebouças foi dos primeiros negros ilustres de nosso país. Herói da Guerra do Paraguai, abolicionista incansável, primeiro catedrático da cadeira de Resistência dos Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade do Brasil (atual UFRJ), sócio fundador do Clube de Engenharia, entidade com 131 anos de existência. Ele dá nome, com o irmão, ao Túnel Irmãos Rebouças, pois juntos foram responsáveis pela concepção e a realização do aproveitamento hídrico dos mananciais São Pedro e Xerém, na Baixada Fluminense, que por longo tempo abasteceram de água a capital do II Império Brasileiro

E agora eu volto à memória de outro negro ilustre, Abdias Nascimento, multitalentoso, pioneiro do movimento negro no Brasil no século 20, cujo 1º aniversário de morte foi celebrado ontem, lindamente, justamente no prédio da Barão de Teffé e no Cais do Valongo projetados por André Rebouças. Um encontro post mortem histórico de dois homens que impuseram a importância do talento e da capacidade da raça negra para o desenvolvimento e a História de nosso país…

A iniciativa da homenagem a Abdias foi do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros. A programação começou com cerimônia inter-religiosa no Sitio Arqueológico do Cais do Valongo, maior porto de chegada de escravos do mundo. Foram lidos textos de várias matrizes religiosas, desde o sufi, passando por judaico, católico, evangélico (pelo pastor João Carlos Araujo), muçulmano (pelo sheik Salah Ahmad) e de origem africana…

Após o Nsa Gu, oferenda de bebidas aos ancestrais, cantaram o Olissaurê, invocando paz, união e harmonia, com Darcy da Cruz tocando o clarim. Como parte da cerimônia, o pombo foi solto, representando a liberdade. Em seguida, houve ato cultural na sede da Ação da Cidadania, com estreia do documentário Abdias vive!, leitura de poesias, apresentação da Acadêmicos de Vigário Geral e roda de choro com o Regional Saci Chorão

E eu estava lá, meus amores, testemunhando, aplaudindo, aprendendo, lembrando Abdias e o engenheiro Rebouças, que foram prestigiados também com a presença do presidente do Clube de Engenharia e dos conselheiros Benedito Rodrigues e Quintino do Carmo

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Fotos de Sebastião Marinho

 

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Concurso Vestido de Noiva No Cais do Valongo, o encontro de dois negros históricos: Abdias Nascimento e André Rebouças!


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