Morre a Rainha do Colunismo Social do Mundo… depois dela, o dilúvio!

Os devotados ao colunismo social a conhecem bem. É a maior colunista social do mundo. Isto é, foi, pois faleceu na sexta-feira passada, aos 98 anos, Aileen Mehle, a “Suzy”. Antes disso, ela se assinou “Suzy Knickerbocker”, como herdeira, a partir de 1959, do espaço no New York Journal-American do também mítico “Cholly Knickerbocker”, pseudônimo usado por vários colunistas anteriores a ela, entre os quais o que mais se destacou foi Igor Cassini.

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A grande dama das borbulhas internacionais

“Suzy” era seu “nom du plume” ou pseudônimo, como chamamos aqui. Ela foi a grande dama, a Rainha das Colunistas da Sociedade Americana, durante muitas décadas foi a única colunista social de Nova York e, por isso mesmo, a mais importante do mundo, a última cronista da vida daqueles poucos que ainda eram chamados Sociedade Internacional.

Teve uma vida maravilhosa e fascinante, aproveitando tudo que de melhor existia naqueles anos dourados, convivendo com um mundo de pessoas interessantes, estimulantes, fascinantes, famosas e muito ricas, que viviam sob os “spotlights” daqueles tempos gloriosos.

Aileen brilhava sempre que aparecia em público e era muito popular e querida por ambos, homens e mulheres da sociedade do século 20, que reunia dinheiro-fama-poder. Ela tinha um poder real naquele mundo, que agora chamamos “A Elite”!

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Suzy-Aileen Mehle, com suas inseparáveis plumas e com o duque de Windsor

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Muito bonita, com glamour de uma estrela de cinema, era a favorita de muitos playboys e milionários da América do Sul, de ricos esportistas americanos e, dizia-se então, chegou a ser “a favorita” de Onassis ao tempo do “casamento contratual” com Jackie O.

 

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O grand monde comentava à boca miúda que o armador Onassis vivia um romance com a Rainha do Colunismo Social, Aileen Mehle

Aileen Mehle dominou o high society mundial não apenas na letra impressa, mas no convívio. Personalidade forte, magnética, tinha um texto refinado, cultivado, cheio de referências literárias e, ao mesmo tempo, malicioso e extremamente irônico. O que fazia de sua leitura diária um exercício saboroso de sutilezas e futilidades, que adoçava o dia, despertava curiosidades e nos fazia acompanhar o cotidiano inacessível da upper class americana dos milionários, como se lêssemos uma novela muito bem escrita, com incomparável sofisticação.

Descobri “Suzy” aos 20 anos, ainda “Suzy Knickerbocker”, quando me hospedei pela primeira vez em casa de Eleanor Lambert em Manhattan, diante do Central Pak, e o New York Journal-American vinha todos os dias ao meu quarto, no compartimento lateral da bandeja de breakfast. Foi uma revelação! Eleanor era a toda poderosa da moda americana, dirigia a Eleição das Mais Bem Vestidas do Mundo e promovia o Coty Awards, prêmio aos importantes da moda. Era a grande amiga de Aileen.

Tanto fiz, que consegui entrevistar “Suzy”. Ela me recebeu com plumas em sua Townhouse de princesa no East Side, decorada em estilo clássico francês. Tratou-me com simpatia e entusiasmo, e parecia mais curiosa sobre mim do que eu sobre ela: “Uma jovem colunista social sul americana –  do Rio de Janeiro? Fale-me daquela cidade linda!”. Quando voltei, publiquei a entrevista, mas acho que na época as pessoas não entenderam o meu triunfo, porque aqui no Brasil poucos conheciam a “Suzy” e menos ainda sabiam do high society americano…

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Em 1976 nós duas nos encontramos no Bal des Étoiles, em Monte Carlo. Aileen estava na mesa da Princesa Grace. Ela era a “Suzy”, eu era a “Perla Sigaud”. Aileen vestia um caftan exuberante. Ela elogiou minha roupa: um três peças vermelho de saia longa e faixa sobre o busto de mousseline com um casaqueto de paetês bordado à mão, de Guilherme Guimarães. E uma longa écharpe do mesmo tecido em volta do pescoço com as pontas para trás até lá embaixo. Era tchan total. O casaquinho ainda existe.

Eventualmente, quando nos anos seguintes nos encontrávamos em eventos em Nova York, no Régine’s, no Club A, ou na Europa (na foto acima, em Monte Carlo), ela sempre se referia com simpatia àquela entrevista em sua casa, perguntava pelo Rio de Janeiro, pela Carmen Mayrink Veiga – amiga comum – ou qualquer outra amenidade.

Aileen foi uma referência para mim pelo resto da vida. Seu texto delicioso, a irreverência, o humor iconoclasta sem resvalar para a grosseria, porém atingindo o alvo com precisão serviram de guia para o meu trabalho.

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Aileen em outro baile, desta vez, de Máscaras

Depois do New York Journal-American, ela foi para o Women’s Wear Daily, uma grande conquista do publisher John Fairchlid.

Seu último espaço de poder foi a revista “W”, de John Fairchild, do qual ela própria tomou a iniciativa de abdicar, se aposentando em 2006, quando decidiu que não via graça alguma na atual sociedade, que não era mais de fato “sociedade”, mesclada com nomes que surgiam instantâneos feito leite em pó, e assim desapareciam, dissolvendo-se em escândalos sem qualquer glamour e povoada com nomes de estrelinhas e ‘estrelinhos’ do showbiz de pequena dimensão.

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“Suzy” capa de revista

Aileen começou a achar aqueles novos elencos muito aquém de seu próprio estrelato e do estrelato dos elencos que já haviam passado por suas mãos e por sua pena. Àquela altura do campeonato, não valiam o esforço, o empenho e o tempo para adicionar sua sofisticação a um universo sem um traço dela.

Consta que Aileen Mehle foi descoberta e lançamento de Truman Capote. Não duvido. Qualidade literária para inspirar tal padrinho, ela tinha.

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Suzy-Aileen, aqui em efeito visual que a faz parecer uma divindade. O que, para o colunismo social, ela foi. Perto dela, no entorno, apenas ectoplasmas 

11 ideias sobre “Morre a Rainha do Colunismo Social do Mundo… depois dela, o dilúvio!

  1. Eu a vi alguma vez no Regine´s e no Club A, sempre depois de alguma festa com uma entourage importante, de longos, e Black Tie….Era uma visão, com aquelas perucas todas..Acompanhei suas deliciosas crônicas nas décadas que assinei a Vanity Fair, a W, e o Woman´s…ela descrevia um mundo que existia para poucos, mas era fascinante ler, como está sendo seu tributo à ela!.

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