MISSA EM MEMÓRIA DE SIMON LANE, O DELICIOSO INGLÊS “MALUCO BELEZA”

Era a missa em memória do escritor britânico radicado no Rio de Janeiro Simon Lane. E um arrepio correu nas espinhas da audiência, enquanto os pelinhos dos braços todos se eriçaram, quando subiu ao altar, para dizer um texto de saudação ao seu irmão morto, Guy Lane, gêmeo idêntico.

A semelhança é tão grande que a impressão era a de que Simon estava ali presente, de terno escuro e gravata, redivivo, na capelinha de Santa Inês, na Gávea, despedindo-se ele próprio de seus queridos e inseparáveis amigos. Mas era o Guy. Iguais não apenas no físico, mas na voz, no gestual, na maneira de caminhar, nas expressões faciais, nas pausas da fala. Realmente impressionante. Inquietante até.

Contudo, logo as pessoas despertavam da letargia provocada pelo impacto da semelhança e se davam conta de que, se fosse o Simon, ele estaria lá falando em português, que dominava bem, e não em inglês, como fazia o Guy, e não estaria se referindo a ele mesmo na terceira pessoa, quando dizia que ele “foi muito feliz aqui no Rio, cidade onde vivia desde antes de 2000, quando se casou com Betsy Monteiro de Carvalho”. Guy não economizou elogios à cunhada. E agradeceu por ela ter feito o irmão tão feliz. Depois da missa, durante os cumprimentos no jardim da igreja, foi muito emocionante vê-los chorando, abraçados.

Betsy estava muito tocada e agradecida pela linda homenagem prestada por todos os amigos, que se mobilizaram numa grande corrente de emails, que circularam pra lá e pra cá, ao longo de duas semanas, todos se manifestando, confirmando presença ou justificando porque não compareceriam. Como o Louis Albert de Moustier, que está no exterior. Cordélia de Mello Mourão foi o anjo bom que cuidou de acionar essas correspondências virtuais.

Outras pessoas falaram durante a cerimônia, como Letícia, prima de Betsy, e o poeta Cabelo, recitando de cór um longo poema de Gerardo Mello Mourão, pai de Tunga, e deixando todo mundo emocionado e impressionado, pois a poesia era compridíssima e açambarcava praticamente todo o arco social brasileiro, cada estrofe finalizando com a frase “morreu por causa de mim”. Mesmo tão longa, ela foi escutada pela igrejinha atenta e compenetrada.

Os poucos que se levantaram, como Paulo Fernando Marcondes Ferraz, não foi devido ao poema, mas ao frio que fazia, na super-refrigerada capela, dotada de quatro springers. Ao lado de PF estava a sempre bela, e sempre Portela, Célia Oyarçabal, de calça de jogging, bem agasalhada. Já Gisella Amaral, vinda direto de Búzios, tinha os bracinhos magros de fora e bronzeadíssimos, devia estar sentindo frio. Cristina Sá, outra católica devotada e bronzeada.

Thereza Muniz era a única representante da velha geração dos pais de Betsy, cujo irmão, o cineasta José Joaquim Salles, lá estava, bem como, de casaquinho rosa claro, a sobrinha, Tati Salles, filha do adorável Johnny, de quem sempre me lembro com tanta simpatia.

Tati trabalha desde sempre com a estilista Patrícia Viera, irmã da Andréa Dellal, outra presente, formando, com Georgina Brandolini (chegando de Trancoso) e Laura Dias Leite, o trio internacional.

Muita gente do mundo das artes plásticas. Antonio Dias, Vergara, Tunga (que apresentou Simon Lane a Betsy, em Paris, meados dos anos 90, bem antes de eles começarem a namorar), Valéria Costa Pinto, o crítico Paulo Sérgio Duarte, os colecionadores Fainziliber e Frances Marinho, que depois da missa recebeu um grupo em casa, no Jardim Botânico, para cocktails, como é costume na Inglaterra.

Narcisa T. de celular (na igreja), Bia Corrêa do Lago, Vera Bocayuva, Antonio Neves da Rocha. E vários Monteiro de Carvalho, entre eles, as quatro filhas de Betsy, seu ex-marido, Olavo, o ex-cunhado, Sergio Alberto, a ex-mulher dele, Claudia. E da corte de amigos dos Monteiro de Carvalho, as obrigatórias Katia Vita e Angela Carvalho, a talentosa shoe designer.

Havia mais gente de cinza do que de preto. O cinza está na moda. É o novo preto.

A viúva, Betsy, chorou o tempo inteiro. A harpista Cristina Braga tocou temas religiosos durante a celebração, num repertório muito bem escolhido, o que conferiu um tom ainda mais comovente à cerimônia .

Simon Lane, inglês nascido na cinzenta Birmingham, tem dois livros publicados no Brasil. Noite em Pigalle conta a história de Fear, um solitário escritor inglês que se mete em mil confusões, quando decide viver em Paris. Boca a boca foi vertido do inglês para o português por Barbara Heliodora, a mesma tradutora das obras de Shakespeare. Ele é ambientado numa Paris glamurosa, onde Simon viveu 12 anos, e conta uma história de suspense e humor negro.

Mas os seus fãs podem aguardar que ele deixou um livro inédito, já nas mãos da agente literária Luciana Villas-Boas e muito em breve no prelo. Esperamos que este seu último livro traga suas experiências cariocas, dos quase 15 anos em que aqui viveu e marcou o Rio de Janeiro com seu temperamento jovial, levemente excêntrico e seu very british sense of humour, de quem também atuou em filmes alternativos e foi comediante na TV inglesa.

O que o levou, certa vez, numa festa na casa de Betsy, a mergulhar nu na piscina! E por muito tempo o high carioca só falou daquele delicioso inglês maluco beleza, que nadou pelado na piscina de uma Monteiro de Carvalho, e que, pouco tempo depois disso, ele passou a namorar. Até que a morte os separasse…

Missa Simon Lanes lane

Fotos Portal Vera Donato

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