Milhares de foliões invadem Santos Dumont xingando Crivella e refletindo uma sociedade exaurida

Faz pensar a invasão do Aeroporto Santos Dumont hoje por um bloco de carnaval, repetindo mantras de protesto, como o já batido “Fora Temer” e “Ei, Crivella, vai tomar…… “, este último até a exaustão. Exaustão mesmo. Os foliões chegaram a sentar no chão, dar uma descansadinha e logo levantar para prosseguir no mesmo mantra, pulmões plenos ecoando em todo o aeroporto, “Ei, Crivella… “. Não vou postar o vídeo impressionante aqui. Os curiosos encontrarão no YouTube.

Não fico confortável com esses desrespeitos, acho que refletem a degradação de uma sociedade exaurida em vários aspectos. Na primeira vez em que uma manifestação desse tipo ocorreu, que eu me recorde, fui das poucas vozes da mídia a manifestar, de imediato, meu desagrado. A grande maioria se calou. Alguns jornais até felicitaram. Houve políticos que aplaudiram. Hoje, aqueles veículos de comunicação e aqueles mesmos políticos são, indiscriminadamente, alvos de protestos chulos semelhantes. Perderam a oportunidade de se posicionar de forma digna, quando a atacada era a chefe de Estado. Quem cala, consente. Bem como quem endossa.

Por óbvio que o prefeito Marcelo Crivella tem deixado muitos furos. Ao rejeitar e ignorar todas as tradições e vocações naturais consolidadas da Cidade, ele não seria ingênuo de imaginar que não provocaria reações. Ele também não poderia debitar toda essa hostilidade à campanha que lhe fazem os veículos da Globo, sua natural opositora, pois ele próprio se supera no esforço para fazer oposição a seu próprio governo.  Um prefeito do Rio que não gosta de samba, reza a cultura popular, “bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”.

Pode um prefeito da Cidade do Carnaval se eleger sem gostar da festa? Além disso, negar-se a prestigiá-la? A frequentá-la? Chegar ao extremo de cortar seus subsídios? Um religioso extremado, bispo, devoto de pés juntos da Igreja Universal, não deveria, por princípios, se candidatar a prefeito da Cidade do Rio de Janeiro. É uma contradição.

Crivella não aceita as manifestações afro-brasileiras, sejam elas artísticas ou religiosas; promove o fechamento de casas de jongo; cancela os apoios oficiais a qualquer evento tradicional da cidade, até festas seculares, que tenham nome de santo – uma cidade que se chama São Sebastião do Rio de Janeiro! Ao turismo, não dá a menor bola. Não fosse o projeto “Rio de Janeiro a Janeiro” patrocinado e gestado pelo ministro da Cultura, o carioca Sérgio Sá Leitão, o turismo seria cinzas.

O prefeito parece ignorar todos os códigos e posturas municipais de organização urbana, ao permitir a ocupação das calçadas e dos canteiros centrais da orla, sem qualquer organização ou controle, por todo tipo de comércio ambulante ilegal, e também as praias. Certo, isso sempre houve. Mas não nessa atual proporção. Certo, estamos numa crise sem precedentes no país e o pobre precisa sobreviver, mas para isso temos gestores, supostamente capazes, eleitos para pensar soluções como, por exemplo, espaços especialmente destinados a esse “comércio alternativo temporário” dos tempos de crise.

E a falta de uma logística razoável dos transportes, que permita o ir e vir das multidões de foliões sem paralisar a cidade? Não temos mais quem a formule?

O que houve com as estruturas básicas da Cidade, que, seja dita a verdade, sempre funcionaram desde Marcello Alencar? Dá a impressão de que foram todas desativadas. Lei do Silêncio não é respeitada em bairro algum. E não adianta reclamar. Parques e Jardins, uma calamidade, grama cresce nas praças e vira mato fechado. As grades estão ferradas (perdoem-me o trocadinho), torcidas, quebradas. Não há conservação. Aquelas lixeirinhas laranjinhas? Desbotaram, estão ficando cor de rosa. Todas despencadas, tampa pra cá, recipiente pra lá. É assim que o Crivella está “cuidando” da gente, como prometeu na campanha que faria?

Todos os editais de fomento da cultura da municipalidade foram suspensos. O prefeito do Rio de Janeiro além de não gostar de samba, de religião alheia, de festa, de cidade limpa, de jardim cuidado, além de não usar o Metrô, também não aprecia arte e cultura.

Com uma pausa aqui para elogiar o trabalho que a Secretaria Municipal de Educação, esforçadamente, vem desenvolvendo, como sua Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca. Um oásis num deserto de iniciativas.

Quem trabalha com Marcelo Crivella diz que ele é pessoa fácil de lidar, gentil, educado e respeitoso. Qualidades de um bom líder, que ele poderia estender ao diálogo com as lideranças comunitárias da cidade, e ouvir, cara a cara, suas necessidades e queixas. Seria um grande passo para iniciar nova caminhada, corrigindo as falhas de percurso no início deste seu mandato.

Todo o nosso respeito para quem apenas gosta de orar. Precisamos muito de quem faça isso por nós. Mas cada qual em seu devido cada qual.  Orar e pregar é no templo, não no exercício do poder municipal.

E last but nos least, a única coisa em alta, muito em alta, no Rio de Janeiro é o IPTU. Um aumento jamais visto. Não custa ficar atento ao provérbio bíblico: “É pela justiça que um rei firma seu país, mas aquele que o sobrecarrega com muitos impostos, o arruína”(**). Sabe bem o prefeito o quanto a Bíblia tem a nos ensinar.

(*)  https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/proverbios/29/.

8 ideias sobre “Milhares de foliões invadem Santos Dumont xingando Crivella e refletindo uma sociedade exaurida

  1. Minha Cara, HILDEGARD
    Antes de tudo há de haver o BOM SENSO que Vosmicê sempre teve e tem!
    Sabe, que nem desejo assistir o tal video, pois AMO demais o Primeiro Aeroporto do BRASIL, para ser alí onde despejaram tantos RANCORES!
    É buscando PAZ que as futuras gerações irão desfrutar todas as nossas RIQUEZAS naturais e espirituais!
    Suas palavras servirão como um ALERTA para os dias que se aproximam!
    E, vamos ao XICO BUARK?
    “…..que eu quero saber o seu jôgo?
    ……não tenho um tostão…
    …..Mas…é….CARNAVAL!
    …..não me diga…
    …amanhã tudo volta ao normal…
    ….deixa a Festa acabar…
    ….deixa o barco corrrer…
    ….deixa o dia RAIAR! ”
    Breve…não teremos mais esses MASCARADOS!
    tempo….tempo…tempo…!
    maria edna

  2. Olá Hidegard Angel, filha de Zuzu Angel, minha parenta do Curvelo MG, parabéns, gostei muito!
    Saudações,
    José Emílio Ferreira Soares

  3. Que texto espetacular!!!

    Tudo que penso e que todos os cariocas de bem com a cidade concordam…
    Temos nos afinado.
    Vc està brilhante Hilde@

    Temos que retomar nossa Cidade Maravilhosa!!!

    Obrigado pela coragem!
    Eder Meneghine

  4. Concordo, plenamente, com você quanto às agressividades usadas contra os governantes, sejam quem forem, a campanha do fora qualquer coisa foi um
    verdadeiro big brother e aceito passivamente pelas elites e pretendentes,,,
    O Crivela foi Ministro da Pesca da Dilma e nada fez, ou melhor ajudou a derrubá-la
    assim como tantos outros….A quem servem?????

  5. Ótimo!! O Rio ficou uma cidade triste e isso não pode acontecer, pois é uma cidade linda, diversa, alegre, a vitrine do Brasil. Não é assim que o carioca quer ver o Rio e nem o brasileiro de maneira geral.

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