Em Petrópolis, a Casa do Terror

Foi semana passada, no Palácio Rio Negro, em Petrópolis, com presença de Leonardo Boff, do secretário de Direitos Humanos, do presidente da Comissão da Anistia e da ex-militante política Jane de Alencar, representando as pessoas que foram torturadas no regime militar. O diretor do palácio, Aluysio Robalinho, ao conhecer a história de Jane e de tantos outros, quis fazer o desagravo. Na ocasião, foi reforçado o pedido de tombamento da “Casa de Horrores” de Petrópolis, como ficou conhecida a mansão utilizada pelos torturadores para arrancar confissões dos presos políticos. Aquela casa, de triste memória, deverá ser transformada em um museu de resistência a essas práticas doentias utilizadas pelos regimes ditatoriais. Grande e necessária iniciativa. Não deixar que esses fatos caiam no esquecimento é a missão de todos que sobreviveram àqueles tempos negros e testemunharam a violência praticada…

Apesar de tudo ter acontecido há muitos anos, todas as vítimas daquelas atrocidades as guardam claras na memória. Assim, Jane falou em nome do Lucimar, do padre Henrique, do Marcos, da Fátima, do Marcus Venício, do Bené, do Araken, do Zenildo, do Maurício, do Manoel Lapa, do Zé Carlos da Mata Machado, do “seu” Clóvis – corajoso sobrevivente da ditadura e hoje com 103 anos -, do Clóvis, Nancy, Lenine e de tantos outros amigos e conhecidos de Jane que, como ela bem disse, “sofreram nas prisões a covardia e a doença dos torturadores e que perderam um pouco da fé no ser humano, ou que perderam a própria vida, tão jovens, e que nós amávamos tanto!”…

Também passaram pela Casa de Horrores ou Casa da Morte, em Petrópolis, a jovem Marilena Vilas Boas, do MR8, morta barbaramente, Aluisio Palhano, Heleny Guariba, Walter Ribeiro Novaes e Ivan Mota Dias, do VPR; o deputado Rubens Paiva; Paulo de Tarso Celestino da Silva, da Aliança de Libertação Nacional; Carlos Alberto Soares de Freitas e Mariano Joaquim da Silva, da Var Palmares, e tantos incontáveis outros…

A aparentemente calma e pacata casa branca com pedras e janelas de madeira, cercada por um jardim muito bem cuidado, na rua Arthur Barbosa, 668 , no bairro Caxambu, era na verdade um cárcere privado mantido pelo Centro de Informações do Exército, onde eram torturados e mortos, sem direito a qualquer tipo de julgamento, militantes de organizações de esquerda presos pela repressão da ditadura…

A casa de Petrópolis não foi o único endereço clandestino da repressão com esse perfil. No Rio houve também uma casa em São Conrado e, na zona sul de São Paulo, houve o Sítio 31 de Março e a casa de Itapevi. O objetivo dessas casas “secretas” de suplício era despistar as famílias, mães e pais desesperados, que corriam de quartel em quartel na busca de seus filhos desaparecidos…

Uma das função das casas macabras era eliminar presos tidos como importantes, sem deixar rastros, e a regra era picotar seus corpos em mais de dez pedaços para enterrá-los em locais diferentres (isso segundo inconfidências feitas por alguns militares!), pois o propósito era de que os corpos nunca fossem encontrados. E muitos jamais foram encontrados mesmo…

Agora, me digam: quem eram os “terroristas” de fato? Os que picotavam ou os que eram picotados?…

Jane de Alencar disse mais em seu discurso: “A tortura é um ato de extrema covardia e deixa sequelas profundas – físicas e emocionais. Mas, apesar desse período de trevas, nós sobrevivemos, resistimos e – o que é melhor – ainda lutamos por um Brasil mais humano e justo. Fé na vida!”…

 

casa da morte Em Petrópolis, a Casa do Terror
A aparentemente hospitaleira e inofensiva Casa dos Horrores, em Petrópolis, deverá se transformar em Museu da Resistência, para que essa história jamais seja esquecida

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