Despedindo de José Alencar

Sabíamos todos que a morte de José Alencar seria inevitável. Mas preferimos não saber. Preferimos sonhar e crer, junto com ele, que ele seria, sim, capaz de superar todas as agressões e tropeços de um câncer violento e ardiloso, que ora se mostrava aqui, ora se escondia ali, enganando, iludindo, tripudiando sobre a boa-fé de todos…

Mas, apesar das aparências primeiras, Alencar não perdeu essa guerra. Foram 14 anos de batalhas ganhas, lutas sangrentas, cirurgias incontáveis, e ele, obstinado, agarrado à sua crença de que, através da ciência dos homens e dos cuidados de Deus, conseguiria superar cada dificuldade que se apresentasse…

E vieram os tratamentos de ponta, os medicamentos novos, os consagrados e os experimentais, e vieram as provas incontáveis da presença divina e toda aquela energia comovente dos admiradores, que se multiplicaram neste país inteiro, unidos em torno de uma esperança: a sobrevivência de José Alencar

Tornou-se um disseminador da fé, um alento para tantos outros enfermos, que precisavam apenas de um exemplo, nada mais do que um exemplo, para se agarrarem a ele como a uma tábua de salvação e se acreditarem, também eles, capazes de surfar nas ondas dessa doença cheia de astúcias, superando-as e subjugando-as…

Foi aí que Alencar venceu, alcançou seu intento, que se mostrou agora muito maior do que o sobreviver somente. Ele venceu através das vitórias daqueles que, graças a ele, seu exemplo, creram, e conseguiram alcançar suas curas. Aqueles, com doenças menos agressivas, que saíram do imobilismo e se trataram, superaram angústias e depressões, vendo em Alencar o farol exemplar, que irradiava pespectivas boas sobre o mar dos espíritos desassossegados pela doença…

Tanto se disse que ele não sobreviveria às cirugias, e ele superou cada uma delas. Foram 17! Sem esquecer aquela que nos levou a atravessar a madrugada, tentando, mesmo distantes, transmitir-lhe algum tipo de energia salvadora. Foram 18 horas de espera, e Alencar sobreviveu, mostrando-se, algumas semanas depois, mais humorado, mais forte, mais convencido da providência de Deus

Tanto se falou que o vice-presidente do Brasil não chegaria ao fim do Governo. E ele chegou. Nas tantas viagens de Lula, tomou posse como presidente, mesmo em leitos de hospital, despachou em UTIs, jamais perdeu o bom humor de sua mineiridade. Levantou-se, aprumou-se, ganhou medalhas, fez discursos, de pé e em cadeira de rodas. Nada foi obstáculo para ele prosseguir em sua cruzada. Um verdadeiro combatente…

Muitas homenagens, seguramente, virão, na intenção de perpetuar a memória desse grande brasileiro, desse mineiro notável, que teve em vida a glória única de uma companheira da estatura humana e espiritual de Mariza Gomes da Silva, ela também merecedora de todos os louvores…

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