Crítica: Final de Fina Estampa foi uma verdadeira amostra ao público da “ética do mercado”

Neste momento em que tantos se escandalizam com a “ética do mercado” da vida real, mostrada pelas câmeras ocultas dos telejornais, vamos falar dos maus exemplos que nos inspiram a ficção…

Os capítulos finais de Fina estampa foram um belo receituário de como a vida imita a arte. Todas as ditas “piriguetes” da novela se deram bem. Muito bem. A maléfica Zuleika, semi-atropelada por um milionário bonitão, interpretado pelo Marcelo Anthony, fisgou-o, casou-se com ele e teve final de Cinderela. A Theodora, péssima mãe que abandonou o filho, ladra e outros inomináveis predicados, conseguiu tudo o que queria e algo mais. A dupla de piriguetes veteranas, formada pela Eva Wilma e sua companheira, se deu bem, roubou e levou, comprou caminhão e partiu ganhando o mundo. A tal Tia Iris, sequer um tchau para o filho, belo exemplo!…

O Pereirinha, outra referência terrível de pai, demolidor. Enquanto o corretivo máximo que mereceu o “Zoiudo” espancador da mulher foi passar a dormir no sofá da sala. De resto, perdão total da “esposa” compreensiva. Lei Maria da Penha passou longe. A avó bruxa conseguiu afastar o neto da tia que ele amava e ainda punir a doutora Sorrah com o confisco da profissão, incrível! E pelo visto, quem sabe, numa próxima versão da história, há de vê-la mor-ti-nha, como tanto pretende…

O mau caráter do Antenor, dinheirista continuou até o fim. Sem recuperação. Mesmo assim, conseguiu a mulher amada que desejava. O copeiro-faz tudo-secretário Crô submeteu-se a toda sorte de humilhações de sua “deusa”, tratado como capacho, e no final herdou como prêmio uma fortuna. É esta a mensagem? Devemos todos ser capachos?…

O portuga, que combinava lindamente com a personagem da Julia Lemmertz, à qual incondicionalmente apoiou, de forma terna, despachou-se para a Griselda. René, que adequava-se como uma luva à Griselda, passou-se para uma oportunista em busca de um ricaço. O intragável e preconceituoso Paulo teve um inacreditável final feliz, com a ex-mulher, que ele tanto maltratou. E ela o aceitou de volta, feliz e contente, submissa, boboca. A pudica Griselda provou três, até ajustar-se ao preferido, nada contra, até dou força, mas a lição que ficou foi esta…

Os incontáveis assassinatos restaram impunes em sua totalidade. Confiar na polícia, nem pensar. A arrogância da vitória da maldade agigantou-se de tal forma que maldade foi feita até com os leais espectadores da novela, que ansiosos aguardavam o desfecho para saber quem era o dono do pé com tatuagem de escorpião. Maleficamente, esta revelação foi sonegada à média de 40% de Ibope fidelizada ao horário. Foi esta a paga à la Tereza Cristina dada aos telespectadores…

Deixei para o fim a vilã maior, Tereza Cristina, um tratado inteiro sobre a maldade resumido em personagem único. Sequestrou, matou, torturou, vilipendiou, incendiou, envenenou, eletrocutou, afogou, deitou e rolou e terminou em carrão com motorista, certamente blindado, com vidros pretos, dando bye-bye e sorridente. E muitos vivas à “ética do mercado”!…

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