Cahier de Voyage de André Jordan

Há amigos meus que, pelo tino, o senso de observação e o estilo ao escrever, sempre merecem de mim o comentário: “Coitados de nós, jornalistas, se eles resolvessem concorrer conosco”. Um deles é o André Jordan, que já nasceu pronto para o ofício da imprensa. André tem, como hábito, depois de visitar o Brasil, enviar um relato aos amigos. Como agora aconteceu, após breve giro entre Rio e São Paulo, afastando-se de Lisboa. Aí vão, pois, as anotações do cahier de voyage do André, para deleite de todos nós…

15 dias passados entre Rio e São Paulo

Sempre que volto do Brasil pedem-me os amigos uma informação que sintetize a realidade brasileira atual. Impossível!

Apesar de a minha visão ser positiva, o Brasil é um país que prima pelas contradições.

Um alto nível de capacidade e seriedade de dirigentes públicos e privados convive com um alto grau de corrupção.

Um excelente padrão de cultura e criatividade ao lado de um sistema educativo de grandes carências.

Um dos melhores conjuntos de cuidados médicos privados do Mundo e uma saúde pública deplorável.

Essencialmente penso que o Brasil atingiu um patamar de desenvolvimento que não regredirá.

É impressionante, por exemplo, a pujança da agricultura num mundo carente de alimentos.

Muitos setores da economia estão em crescimento, enquanto outros, importantes, arrefecem, como o imobiliário.

Enquanto os capitais internacionais especulativos abandonaram a bolsa, as empresas de sucesso são assediadas por propostas de investimento ou de compra.

As empresas brasileiras expandem-se para o exterior e Portugal não está fora da mira, desde e quando consiga estabilizar a sua situação financeira.

Portugal precisa de união internamente, e a Europa de união entre os seus membros para resistir às forças que procuram destruí-la.

Concordo com o Primeiro-ministro espanhol quando diz que os especuladores atacam não os países e sim o euro.

Do lado pessoal uma visita ao Brasil é sempre uma fonte de encantamento e felicidade pelo contato com a minha família e os meus amigos, com o charme irresistível do Rio e o vigor e categoria de São Paulo.

E quem diria que o Rio se transformaria num produtor de petróleo, e por isso, rico?

O Governador Sérgio Cabral, atualmente criticado por manter amizades inconvenientes, realiza um grande trabalho de combate à criminalidade e regeneração das favelas, onde vivem um milhão de cariocas.

Na minha família e nos amigos encontrei motivos de muita alegria.

Jantando em casa da minha irmã Dalal Bocayuva encontrei a Hildegard Angel, uma jornalista de grande prestígio, casada com Francis Bogossian (fui um dos padrinhos de casamento), engenheiro e professor catedrático, atualmente Presidente do Clube de Engenharia (Ordem dos Engenheiros).

A Hilde, que foi uma jovem atriz de teatro de sucesso antes de entrar para o jornalismo, divertiu-nos contando histórias com humor e ironia.

A Dalal é uma personagem emblemática e icónica das Artes no Brasil. Foi, por longo tempo, a Diretora do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o principal palco da música, ballet e ópera do país. É fundadora do Ballet do Rio de Janeiro e da Academia Dalal Achcar que contribuiu para a formação artística e a educação de milhares de jovens e é, há muitas décadas, a representante do Royal Ballet School de Londres.

É viúva de um dos mais notáveis políticos do Brasil contemporâneo, o Deputado Luiz Fernando Bocayuva da Cunha, conhecido por todos como o Baby Bocayuva, e mãe do Amir Bocayuva, jovem estrela da advocacia.

Encontrei também o Zézé Nabuco (José Thomaz Mello Franco Nabuco), companheiro de infância, colega de escola, um homem de grande cultura e inteligência, legítimo herdeiro de grandes brasileiros que vêm servindo ao país desde o Império.

A minha amada irmã Aniela e as suas adoráveis filhas, Alexandra e Giulia, são uma festa para os olhos e para o coração. As peripécias desta garota incrível vão na reportagem da revista Veja, link:

A imperatriz de Méier
13/06/2012 | Revista Veja Rio – RJ (Perfil) – pag.: 37-38 | Louise Peres
Citação Pág: 1

Tive o grande prazer de estar com 3 personalidades universais, e velhos amigos, que representam o melhor do Brasil.

Gilberto Chateaubriand é o Papa da Arte Contemporânea. É o maior colecionador do Brasil, muitos milhares de obras, e promotor das artes visuais há mais de 50 anos, responsável pela repercussão que os artistas brasileiros atualmente alcançam no exterior.

Patrono do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM – sempre encarou a sua atividade como uma missão, sem o mínimo interesse comercial.

É por isso que aos 87 anos recebe o respeito e a gratidão da nação.

Um homem simples, natural e destituído de vaidade, de grande sensibilidade, inteligência, generosidade e sentido de humor.

Desde o dia que conheci Ivo Pitanguy, há quase 60 anos, ele não deixa de surpreender.

O cirurgião plástico mais famoso e bem-sucedido de todo o mundo continua jovem, curioso, brilhante, afetuoso e sábio, não fosse ele o professor que não só formou centenas de médicos vindos de todas as partes do mundo, como trata, gratuitamente, até hoje, os casos mais graves na sua enfermaria da Santa Casa da Misericórdia.

Do nosso encontro a notícia da Hildegard neste link:

http://www.hildegardangel.com.br/2012/05/22/nao-ha-felicidade-que-sempre-dure-mas-ficam-as-fotos-e-as-lembrancas/

Em São Paulo encontrei o Mestre Júlio Neves, um dos principais responsáveis pelo que há de melhor na arquitetura e no urbanismo da cidade de São Paulo.

Os meus amigos portugueses que visitam São Paulo voltam deslumbrados com o Shopping Cidade Jardim, o mais bonito do Brasil, uma das milhares de obras criadas no seu ateliê.

Como Presidente do Museu de Arte de São Paulo – MASP – conseguiu, com o apoio da VIVO (enquanto PT) adquirir um grande edifício adjacente ao Museu, cujas obras de adaptação estão quase prontas.

Este querido amigo fez questão de me proporcionar um encontro com um grupo de amigos comuns, num convívio com o melhor da fidalguia e da intelligentsia paulista.

No dia seguinte, acompanhado pelo meu escudeiro Rui Fonseca, fui recebido pelas comissárias da TAP com beijinhos, um começo simpático para uma excelente e pontual viagem até Lisboa.

André Jordan

15 de Junho de 2012

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