Aventuras cariocas numa charmosa cidade na Provence

O calor era de rachar, 40ºC à sombra, mas não foi só isso que mudou o clima da degustação de vinhos na cave do Château de Beaucastel. O tempo esquentou ainda mais com a chegada da tribo de convidados cariocas para a festa, em Orange, de François Perrin e Isabel Sued Perrin. A programação começou com uma visita à cave de um dos maiores produtores dos vinhos Châteauneuf-du-Pape, da Provence francesa, François Perin, guiada por ele próprio…

Perrin, que conhece bem os cariocas graças às visitas que fez aos amigos Boni e Lou, no Rio e na casa de Angra, onde conheceu sua hoje mulher Bebel Sued, fez dois tours pela cave, explicando tudinho: a chegada das uvas, o processo de fermentação, o armanezamento, o engarrafamento. O número impressionante de tonéis, as vinhas, o processo secular do plantio e o resultado final, que é avaliado pelos enólogos, numa sala de degustação, onde também os admiradores amadores podem degustar e perceber as nuanças de um bom rouge

Apesar de toda a excitação e do frisson permanente que lhes é peculiar, os amigos de Bebel conseguiram segurar a onda nesse primeiro encontro com os anfitriões, deixando para extravasar sua alegria depois. Afinal, tinham que se conter para prestar atenção nas explicações de François e também para não surpreenderem, com sua exuberância tropical, a atenciosa matriarca Perrin, Margheritte, que, aliás, preparou pessoalmente a tábua de queijos e os aperitivos servidos da sala de degustação…

E sabem de qual parte eles mais gostaram? Do ritual de cuspir, em lindos cuspidores de prata, os vinhos que não quisessem beber, bem como derramar ali os vinhos excedentes. Ah, foi uma farra – e eu que não estava lá pra curtir junto! Depois de experimentar vários tintos e brancos produzidos no Château Beaucastel, o grupo fez uma pequena visita à maison, onde a matriarca o esperava e onde vive praticamente sozinha, cercada de memórias, inclusive uma carta do rei Luis XIV cedendo aquele pedaço de terra do Vale do Rhône à família Beaucastel (cujo significado é Belo Castelo) e o brasão dos “BeauCastel” esculpido na pedra acima da lareira…

Foi no século XIX que os Beaucastel venderam seus vinhedos e a propriedade à família Perrin, que desde então se mantém no negócio, passado de pai para filho. Margheritte foi muito hospitaleira em seu salão, de onde os convidados seguiram para jantar a 40km dali, na cidade de Gigondas, onde o filho de François, Charles Perrin, possui o restaurante L’Oustalet, considerado por muitos uma das grandes mesas da França

Cidadela típica da Provence, com a igreja de Notre Dame de Dentelles dominando a região do alto de uma colina, a minúscula Gigondas não podia ser mais charmosa com seus 583 habitantes. O jantar pantagruélico começou com Salade de Cèpes D’Été à la Brousse de Brebis (um queijo artesanal) e presunto Pata Negra, Le Carré et L’Epaule D’Agneau aux aubergines blanches e, para arrematar, framboesas e sorbet de mirtyle, tudo isso harmonizado com os vinhos adequados e champagne Pol Roger

Para completar o primeiro dia festivo, foram todos visitar a igreja e agradecer a Notre Dame de Dentelles a alegria de estar ali. Ah, e as Dentelles, meus amores, não são aquelas rendas (dentelles) francesas que enfeitam as mulheres, são as Dentelles de Montmirail, isto é, a pequena cadeia de montanhas ao pé da qual brota a simpática Gigondas

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A simpática igrejinha romana de Notre Dame de Dentelles, em Gigondas

Foto Google Earth / Michel Guerin

Fotos de José Ronaldo Müller

 

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