AFINAL, QUAL É A MINHA IDEOLOGIA: DIREITA, ESQUERDA OU O QUÊ?

A respeito do comentário de um leitor sobre o post de hoje do Offshore Leaks, preferi postar aqui, dada à extensão de meu comentário-resposta. Sirvam-se, se conseguirem. 😉

“Triste sina esta do Brasil, que em pleno período democrático vê voltar com toda a força a chaga do obscurantismo e do conservadorismo retrógrado e destruidor da sociedade e dos direitos civis. Resistir é preciso. Luiz Müller“.

Minha resposta:

O obscurantismo não está voltando, caro leitor Luiz Müller, ele sempre esteve entre nós, silencioso, sorridente, gentil, dissimulado e presente, esperando o momento de dar o bote. Agora, o acomodamento da (as) esquerda (as), alimentada com as delícias do poder, confortável em seu aburguesamento, bem situada em suas composições e pragmatismos, enfraquecida por suas desmobilizações, comprometimentos, ambições, memória fraca, velhice, doenças e pela ausência de muitos que já se foram, se omite, deixa pra lá e, em vez de bradar, espernear, ela solta um fraco suspiro, aff!

Enquanto a direita, sempre próspera, rica, bem alimentada, bem cuidada, com bons médicos, bem vitaminada, volta com a volúpia de sempre, maneirosa e detendo, pois nunca deixou de deter, os postos chave da manipulação da opinião, para recuperar o espaço de mando, de Senhora de Tudo e de Todos que, historicamente, sempre foi dela, a Dona do Mundo.

E, quando a turma dita socialista abrir o olho, ela terá duas medidas a tomar: ou se passa toda para a direita ou que lamba os beiços.

E você me perguntará se sou de direita ou de esquerda. Sou por um mundo sem esse tipo de divisão. Sou pela distribuição mais equânime e justa das riquezas. Pela livre iniciativa. Pela força do trabalho. Pela valorização dos talentos individuais. Pelo empresariado que gera empregos. Pelo empregado que produz bem feito, com afinco, e deve ter o mais amplo reconhecimento e a mais digna das remunerações. Pelo direito pleno à prosperidade. Sou cristã, sou por um mundo fraterno, em que todos se achem, realmente, iguais. Não se enxerguem, de forma alguma, especiais ou superiores ou inferiores. Não precisam se gostar, mas devem se respeitar.

Pelo Estado mais forte, para que qualquer aventureiro não venha e dele lance mão, oprimindo o país e o povo, pois, de piratas estamos cansados, exaustos, há mais de cinco séculos.

Piratas com punhos rendados, piratas de terno e gravata. Piratas em naus catarinetas, piratas em Boeings e Concordes, piratas em naves e satélites e submarinos e plataformas petrolíferas e sondas perfuradoras.

Não precisamos deles. Temos tecnologia, temos cientistas, temos mais é que prestigiá-los, fincá-los em nossa Terra, e não repetir o que temos feito por décadas, desprestigiando nossos valores com a política do desestímulo, da verba nenhuma e da inveja atávica, quando vemos surgir, brilhar e se projetar um verdadeiro talento.

Sou ingênua, sou pura, sou vítima, talvez primária. Certamente.

Hilde

9 ideias sobre “AFINAL, QUAL É A MINHA IDEOLOGIA: DIREITA, ESQUERDA OU O QUÊ?

  1. Eu sou de esquerda ou de direita? Quando penso sobre isso, não sei a resposta. Sou contra as várias bandeiras que a direita e a esquerda empunham…

    Sou contra o Estado controlando tudo, sem a existência de empresas privadas… Considero que a privatização empreendida no Brasil pelo governo FHC trouxe grandes benefícios à população. Sou de direita, então? Mas, sou a favor do casamento gay!

    Sou contra a pena de morte, mas sou a favor da redução da maioridade penal, assunto que o seu PT, de esquerda, nem sequer ousa discutir!

    Defendo o Estado laico, a descriminação do aborto e de algumas drogas… E sou a favor do endurecimento das penas para muitos crimes.

    Como, então, me definir politicamente?

  2. Também não me considero nem de esquerda, nem de direita.Talvez centro, talvez neutro, mais à esquerda ou mais à direita.Sei o que é direita contemporânea no Brasil e tenho certeza que dela não faço parte.Acho a esquerda utópica demais, já o modelo de sociedade proposto pela direita é estéril demais, quase desumano.Creio que, estritamente, ambos são impraticáveis, e não saem nunca do espectro ideológico.O reacionarismo é uma estupidez, conservador eu sou com o deve ser conservado pautando-se pela lógica, nunca por religião, da velha tríade: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.Com ênfase na liberalidade.

  3. Texto emocionante, porque advindo de uma trajetória integralmente verídica, na qual as palavras estão enxertadas das testemunhas mais eloquentes possíveis: os seus atos… Muitas vezes, é o processo histórico a nos envolver que nos escolhe, sem nos deixar escolha, para sermos atores nele… E, não é uma maldição, nunca essa eleição pela vida, apesar da dor e dos embates… É uma bênção, privilégio exclusivo dos tatuados pela Força Superior da solidariedade, que as antenas do coração captam com essa nitidez ímpar e sólida, fazendo a solidariedade parecer um paralelepípedo, e não algo imaterial…

  4. Hilde… belo texto! Assino contigo: FORA!!!”Piratas com punhos rendados, piratas de terno e gravata. Piratas em naus catarinetas, piratas em Boeings e Concordes, piratas em naves e satélites e submarinos e plataformas petrolíferas e sondas perfuradoras.”

  5. Hilde,
    “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.”
    Che Guevara

    A voce todo meu carinho e admiração.
    Beijos

    Moniquinha

  6. Seu texto é adorável em todos os sentidos.

    Não, você não é ingenua. Nem tampouco acredita num mundo sem a polarização entre direita e esquerda.

    No fundo mais profundo do seu texto, você revela que é de esquerda.

    Mas não desta esquerda que se acomodou às delícia do poder e se esqueceu das vítimas da Ditadura. Porque esta esquerda, Hilde (vou chamá-la desta maneira não porque a conheço, mas porque gostaria de conhecê-la), é apenas a nova face da velha direita. Aquela dos punhos de renda, bem alimentada, bem cuidada, com bons médicos e sempre vitaminada de uma maneira ou de outra, que ora exerce diretamente o poder ora aplaude quem a alimenta de maneira farta.

    Você afirma que é “…pela distribuição mais equânime e justa das riquezas”. Distribuição, minha cara, é palavrão bonito que não existe no dicionário de ninguém que seja genuinamente de direita. Além disto, segundo a tradição discursiva brasileira, que você conhece há mais tempo que eu, toda pessoa que diz em público que “não é de esquerda nem de direita, muito pelo contrário” é contra a distribuição da riqueza e, portanto, de direita.

    Percebi que você inverteu os termos de uma equação conhecida para alcançar um resultado bem diferente. O humor é sutil, poucos entenderiam isto. O elã literário – esta é a primeira vez que consigo usar com propriedade a palavra elã -, mas como ia dizendo, a energia literária do seu texto é evidente e preciosa. Mas não vou lhe desejar uma cadeira na ABL, porque lá, salvo raras exceções, você não estaria entre escritores civilizados.

    No fundo você é o que não admite ser. Não é exatamente o que disse, pois uma pessoa primária não teria um estilo literário tão refinado. Você é vítima sim, mas não é uma pessoa vitimizada. Você zomba de si mesma e dos leitores, mas não de maneira grosseira. Seu texto é adorável e… “imexível” (como diria um Ministro do Trabalho brasileiro de décadas atrás).

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