A PARÁBOLA DA CORRUPÇÃO

pecado-originalCorrupção: o pecado original

A síntese da verdade do comportamento humano está no Gênesis, na mais singela das fábulas bíblicas. A história da serpente no Paraíso, que seduz Eva com a maçã e, por conseguinte, Adão. É a Parábola da Corrupção.

Ali está tudo dito. A corrupção é irresistível. Nem Deus pode com ela. Na política, a corrupção é como uma traça, que vai corroendo todo o tecido de um país, cobrindo a extensão de sua geografia, com a paciência de um jabuti, a voracidade de um esfomeado, sem deixar partido sobre partido, ideologia sobre ideologia, discurso sobre discurso, líder sobre líder, herói sobre herói, biografia sobre biografia, estadista sobre estadista.

Insaciável, a corrupção avança sobre todos os poderes de uma Nação, como se seu estômago não tivesse fundo. E não tem.

Jogador, o corruptor profissional, aquele de carteirinha, a cada vez procura superar novos obstáculos no seu ato de corromper e, ao vencê-los, se compraz com o gozo da vitória, num exercício de superação de desafios.

A corrupção não poupa sequer os santos, os justos e as mulheres ditas honestas… que são, até conhecerem a lábia do corruptor.

O corruptor compra a mulher com que se casa, os filhos que gera, os amigos que o cercam, as pessoas que lhe sorriem na rua, o porteiro, o sorveteiro, o sacerdote, o guarda de trânsito, o mundo. O corruptor é antes de tudo um boa praça. Via de regra, um bonachão. Seu perfil é o do vaselina. O daquele que não se estressa, pois sabe que não vale a pena, tudo na vida tem jeito. É uma questão de dinheiro. Ele tem.

O corruptor é pragmático. Se o corrompido perde o posto, a importância, a posição, ato contínuo e sem pestanejar, o corruptor corta-lhe confortos, mordomias, facilidades, jatinhos e até a cesta de Natal. Certa vez, perguntei a um corruptor: “Mas você fez isso com o ex-ministro? E se ele voltar ao poder?”. Resposta incontinente: “Aí, eu volto  a dar”. Pronto, é o código de Anjos* muito bem aplicado pelo corruptor: a mão que afaga é a mesma que apedreja.

O corruptor não admira o impoluto. Despreza. Não perde tempo com ele, pois, à parte todas as qualidades que possa ter, o impoluto não o interessa, já que não tem futuro. Do alto de sua experiência de PhD em Corruptez, ele enxerga o pior dos cenários para os idealistas empedernidos, que acreditam numa regra defasada, totalmente old fashioned, ditada por um evangelho retrô: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

* Mas este código não é ditado por Anjos bíblicos, é pelo poeta Augusto dos Anjos.

4 ideias sobre “A PARÁBOLA DA CORRUPÇÃO

  1. Adorei Hild, só penso que a Eva era mais perigosa que a serpente, ela foi só o método usado pelo poderoso ,a corruptividade já existia em Eva, somente precisava da oportunidade. “A oportunidade faz um ladrão” A serpente foi a vítima, abraços. Admiro seu Trabalho, mulher virtuosa.
    Norma Louback Bachur, Corretora de Imóveis em BH-MG

  2. Mais uma coisa Hilde. Nunca podemos esquecer aquele corrupção miúda, praticada no dia a dos e que minam os esforços de moralização da administração publica. Concordo. Sou advogado há 20 anos e digo com orgulho que nunca dei propina para nenhum servidor do Judiciário. Entretanto, isto só me causou dor de cabeça e várias brigas, pois o Judiciário está cheio de oficiais de justiça que só cuidam com rapidez dos mandados que geram receitas ilegais (busca e apreensão de veículos, por exemplo) e de chefes de cartório que retardam a expedição de guias de levantamento se o advogado der uma “caixinha” (eufemismo para propina). Já fiz vários servidores responderem processos por causa de incidentes correlatos e também já fui ameaçado dentro de um Forum por causa disto. Muitos advogados que eu conheço pagam a propina tão regularmente que chegamos ao absurdo de existirem servidores do Judiciário que acreditam que têm direito adquirido a receber “agrados” (outro eufemismo para propina) e ficam furiosos quando não a recebem. Cá ser honesto dá um trabalho danado.

  3. Excelente Hilde. Aqui vai uma modesta contribuição para você pensar e, quem sabe, nos brindar com uma nova parábola sobre a “natureza mecânico-programizada” da corrupção do Brasil.

    Isaac Asimov criou as três leis da robótica:

    1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
    2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
    3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e/ou a Segunda Lei.

    Cá não temos muitos robos nem na literatura, mas roubos temos muitos em qualquer órgão público. Por isto desenvolvemos as três Leis da corrupção:

    1ª Lei- Quem rouba dinheiro público não faz isto sozinho, tem que repartir;
    2ª Lei – Quem é pego roubando dinheiro público cai sozinho, não pode denunciar os confrades;
    3ª Lei – Quem for denunciar seus confrades morre antes de prestar depoimento ou fornecer a prova documental.

    Há, há, há… Agora só falta você, que é supimpa com as palavras, escrever uma cronica ironica sobre nossos corruptos programados pelos partidos para arrecadar e estocar dinheiro eleitoral. Eles são máquinas de se corromper menos inteligentes que os robôs de Azimov e quase sempre fazem um mal danado às pessoas (e até a eles mesmos, muito embora não sejam propriamente descritos como pessoas).

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