2012, o ano do emblemático mausoléu da cultura: o ‘Lixão Aloísio Teixeira’

Enfim, a população abriu o olho e toma posição no affair Canecão. Vejo hoje na TV moradores da Urca e de Botafogo reclamando tardiamente do fechamento da casa de espetáculos, sobretudo pela insistência de um reitor que sabia que a UFRJ jamais teria condições de dar continuidade à atividade daquela casa de espetáculos ou de desenvolver ali qualquer tipo de projeto, mas bateu pé, fez valer sua “otoridade” e a fechou assim mesmo, com o respaldo da decisão judicial. Não havia condições de a UFRJ fazer alguma coisa ali nem, como hoje se vê, a mais leve vontade, diga-se de passagem…

Agora, nesta virada de ano, são só reclamações. Vizinhos se queixam dos ratos, do abandono, dos criadouros de mosquitos da dengue, do prédio estar aos pedaços, de servir a moradia de mendigos, de mictório de passantes, de abrigo de cheiradores e bandidos e por aí vai o Muro das Lamentações, em que a maior queixa é que o Canecão virou um Lixão! Sugiro até um nome, solenidade de inauguração e letreiro: Lixão Aloísio Teixeira, nome do ex-reitor, que deliberadamente fechou, lacrou e enterrou o templo da MPB, onde durante mais de 40 anos se escreveu a história da música brasileira…

Façamos, porém, o mea culpa. Teixeira não foi o responsável único. Os formadores de opinião se calaram; a imprensa viu aquelas portas se cerrarem e nem um pio – foi “imparcial”, eca!; os artistas, então, parecia que nem era com eles; o público frequentador do Caneco e os vizinhos, que deveriam estar fazendo passeata na porta, nem tchum e os estudantes, esses ingênuos, serviram de massa de manobra do tal reitor e chegamos a ver a universidade pendurar faixas no muro do Canecão com inscrições do tipo “Cultura não é comércio”. Como se não fosse! E a indústria cinematográfica é o quê? E os grandes musicais do teatro? E a indústria fonográfica? E as feiras de arte contemporânea? Ah, me poupem dessa baboseira, dessa manipulação tola, desse revisionismo anacrônico e defasado, dessa falta de objetividade e foco, dessa politicagem barata, dessa ausência de transparência de objetivos, que ,nesse Brasil dos “debaixo dos panos”, logo nos inspiram fins escusos, mesmo que não sejam! Já diziam os antigos: não basta à Mulher de César ser honesta, tem também que parecer…

O que esteve, afinal, por trás dessa obsessão em se fechar as portas do Canecão a qualquer preço, sem choro, sem vela e sem conversa, sem sequer uma fresta para se fazer um acordo conveniente a todos (se essa disposição houve, não chegou ao conhecimento da imprensa), para que o bairro de Botafogo não servisse, hoje, de triste cenário a esse grande mausoléu a céu aberto da cultura brasileira: o “Lixão Aloísio Teixeira”?…

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